A obtenção de alimento depende das escolhas de habitats e micro habitats favoráveis, que forneçam alimento e abrigo. Existem diversos tipos de aranhas, aranhas errantes, que não se fixam em um local, vivem sempre em busca de novos locais e presas; aranhas sedentárias que constroem teias e ficam a espera de presas que caiam em sua armadilha, e aranhas que se fixam e se especializam em um determinado local, geralmente associado a plantas, que lhes fornecem alimento e abrigo.
Aranhas que se associam a plantas, geralmente escolhem plantas com estruturas favoráveis a reprodução e proteção de ovos e filhotes, como plantas da família Bromeliaceae que possuem uma estrutura em forma de roseta, que consegue rotas de fuga e acumulo de água no centro, que concede umidade e entre suas estruturas que serve de deposito para as folhas das grandes árvores o que fornece o abrigo perfeito para ovos e proteção contra possíveis predadores. Outras plantas bastante utilizadas são plantas com flores, que atraem visitantes extra florais como abelhas, besouros, vespas, etc. estas plantas atraem presas que são a preferência de muitas espécies de aranhas como a de Misumena vatia (figura.1) (Thomisidae) e por flores de Chrysanthemum frutescens, estas aranhas tem a capacidade de refletir a luz ultra-violeta do Sol mudando sua cor para a mesma cor da flor o que deixa a flor mais atrativa. Estas associações com plantas podem ser benéficas ou não para a planta.
Fig.1: Misumena vatia (fonte: http://www.headinjurytheater.com/article1b.htm)
Associações benéficas:
As aranhas representam um papel importante no controle biológico de herbívoro. Esta associação é muito benéfica para as plantas que são constantemente predadas. As aranhas se alimentam de besouros, larvas e outros insetos que consomem as folhas, ou outras estruturas das plantas.
Algumas formigas e besouros se alimentam das pétalas e estruturas extra-florais, sem estas estruturas, a planta tem uma baixa na sua taxa reprodutiva, mas a partir dessa associação com uma aranha, que utiliza a planta como residência, isso diminui.
Em um estudo, de Ruhren e Handel, foi analisado a contribuição que aranhas da família Salticidae tem no aumento da produção de sementes em plantas, da espécie Chamaecrista nictitans (figura 2) (Caesalpineaceae), com nectários extra florais. Estas plantas produzem o néctar como recompensa para suas visitas, e as aranhas da família Salticidae se alimentam deste néctar, e ao se alimentarem ficam com pequenas partículas de pólen presas ao corpo e ao visitarem outra planta, para consumo do néctar ou predação de um inseto, o pólen também é levado ate a outra planta, o que aumenta a variabilidade genética e a produção de sementes já que visitam mais de uma planta por dia.
Fig.2 Chamaecrista nictitans (fonte: http://www.ct-botanical-society.org/galleries/chamaecristanict.html)
Aranhas secretam praticamente amônia e nitrogênio por poderem passar longos períodos sem a necessidade de se alimentar, sendo assim, com os restos alimentares de suas presas e também com a excreção, fornecem uma fonte de Nitrogênio para a planta.
Associação não benéfica:
Com o aumento na taxa de predação de visitantes florais como vespas e abelhas, pode ocorre o declínio na reprodução destas plantas.
Abelhas da espécie Apis mellifera tem a capacidade de perceber quando abelhas de sua espécie estão mortas ou foram mortas em uma planta e assim deixam de visita- lás. Abelhas mamangavas (Bombus ternarisu) reconhecem a presença da aranha Misumena varia (Thomisidae) em plantas e também deixam de visita - lás, o que faz com que diminua a polinização das plantas e assim a baixa na produção de sementes. Outras espécies de abelhas não reconhecem aranhas e nem mesmo percebem suas co-espécies mortas, e visitam as plantas assim mesmo, e muitas vezes são predadas. Este excesso de predação de visitantes muitas vezes ocorre pelo grande número de aranhas em plantas próximas ou em uma única planta.
Observações de campo:
Durante o período de saídas de campo do TCC, pude observar várias das interações citadas acima. A mais comum era a associação de aranhas com bromélias, as quais muitas vezes possuíam mais de uma espécie de aranha, habitando a mesma planta, as mais comuns eram aranhas da família Salticidae (Figura 3, 4) onde observei pelo menos 3 espécies vivendo em ramos distintos de uma mesma planta. As bromélias com flores ou que estavam com a estrutura floral em formação abrigavam um maior numero de aranhas, o fato das flores atraírem um maior numero de presas, o processo de polinização pelo o que pude observar não sofria interferência, pois o numero de visitantes florais era superior ao numero de predadores, enquanto uma aranha se alimentava (Figura 5) pelo menos dois ou três visitantes florais, passeavam livremente pela flor e visitavam outras plantas.
Fig. 3 aranha da família Salticidae sobre uma bromélia (Fonte: Foto de autoria própria)
Fig. 4 aranha da família Salticidae sobre uma bromélia (Fonte: Foto de autoria própria)
Fig. 5 Salticidae se alimentando de um visitante floral (Fonte: Foto de autoria própria)
Outra espécie de aranha que observei com associação as bromélias foi Micrathena sp. (figura 6) (Araneidae), esta é uma aranha sedentária que constrói teias e espera as vitimas serem capturadas pela sua armadilha. Estas aranhas utilizam as bromélias, pela sua estrutura de roseta, que fornece um local muito bom para a construção de seu artifício de captura. É uma aranha pequena (figura 7) e utiliza igualmente plantas de tamanho reduzido como habitat.
Fig. 6 Micrathena sp. Sobre uma bromélia (Fonte: Foto de autoria própria)
Fig. 7 Micrathena sp. Vista ventral para comparação de tamanho (Fonte: Foto de autoria própria)
Plantas como a Maria sem vergonha (Thumbergia sp. (Acanthaceae)), que possuem flores pequenas e delicadas, com cores chamativas, e tem como polinizadores pássaros e insetos em geral. Os insetos que visitam geralmente esta planta são abelhas e vespas que são atraídas pela coloração e pelo odor da flor, e são normalmente predadas por aranhas. Durante as observações de campo, percebi que as aranhas só se encontravam em plantas com flores, enquanto plantas sem flores recebiam visitas breves e logo eram abandonadas. Percebi a presença de duas aranhas de famílias e espécies distintas, Thomisidae (Figura 8) e Peucetia sp. (Oxyopidae) (Figura 9), estas aranhas sempre que observadas estavam próximas aos ramos florais e muitas vezes se alimentavam de besouros que predavam a planta, fazendo assim o controle biológico de herbívoros.
Fig. 8 Thomisidae (Fonte: Foto de autoria própria)
Fig.9 Peucetia sp. (Fonte: Foto de autoria própria)
Durante todas as saídas de campo, observei estes tipos de interação, plantas com flores, possuíam um maior numero de aranhas vivendo sobre elas, o que diminuía o numero de herbívoros próximos a planta, já plantas sem flores, muitas vezes possuíam aranhas somente devido a sua estrutura morfológica, como no caso das bromélias. Sendo assim pude concluir que aranhas têm muitas vezes um papel essencial no controle de pragas e na proteção das plantas, onde muitas vezes o numero de flores e frutos podem ser aumentados devido a este tipo de associação.